Eu sempre achei que o cansaço fosse o resultado de
atividades constantes, sempre achei que ele chegava após um longo tempo como
que um alerta, sempre achei que ele indicava o fim, o fim das forças, o fim da
vontade, das expectativas e talvez da disposição.
Mas um dia eu o encontrei, o vi cara a cara. Ele tinha características
únicas, uma face surrada e um corpo cheio de hematomas. Havia nele uma grande
bagagem, como se com meus próprios olhos, eu pudesse ver os escritos de toda
sua história. Como se cada parte de sua pele trouxesse palavras que marcaram sua
trajetória.
Meus olhos se turvaram diante daquela visão, eram muitas
informações, eu não podia digeri-las. Sentei ao seu lado, atônita, fitei meus
olhos em um ponto pra me sentir segura. Ele me olhou com ternura e quis me
contar algo, abriu a boca, mas nenhum som apareceu. Eu só podia ver a luta
interna que estava presente naquele momento único.
Após um longo tempo de silêncio, eu procurava o que se pode
chamar de abrigo. Eu não queria me perder, mas não podia perder aquele
instante. Ele me deu a mão e me levou a conhecer as minúcias de sua história,
me mostrou a riqueza de sua caminhada e a beleza dos afetos que conheceu.
Então, eu entendi. Pude compreender que as pessoas não
chegavam até ele por excesso de atividades. Muitos não sabiam o motivo de
estarem ali, mas estavam. Outros apenas queriam fugir. Mas o que ele realmente
quis me fazer entender era que a maioria se achegava a ele por inércia.
Saturados de uma vida sem emoções, cheios de dias nublados,
exaustos de uma dura rotina.
E ele os recebia com um abraço, deixava que pousassem por um
tempo e então caminhava junto até mostrar um novo caminho a seguir. Com um
impulso os lançava, expulsava o sedentarismo e lhes dava asas.
E mesmo após tudo isso, ele só podia ser um belo amigo.
UAAL
ResponderExcluirCurtiu Mari? Divulga ae o/
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