domingo, 25 de maio de 2014


Eu sempre achei que o cansaço fosse o resultado de atividades constantes, sempre achei que ele chegava após um longo tempo como que um alerta, sempre achei que ele indicava o fim, o fim das forças, o fim da vontade, das expectativas e talvez da disposição.
Mas um dia eu o encontrei, o vi cara a cara. Ele tinha características únicas, uma face surrada e um corpo cheio de hematomas. Havia nele uma grande bagagem, como se com meus próprios olhos, eu pudesse ver os escritos de toda sua história. Como se cada parte de sua pele trouxesse palavras que marcaram sua trajetória.
Meus olhos se turvaram diante daquela visão, eram muitas informações, eu não podia digeri-las. Sentei ao seu lado, atônita, fitei meus olhos em um ponto pra me sentir segura. Ele me olhou com ternura e quis me contar algo, abriu a boca, mas nenhum som apareceu. Eu só podia ver a luta interna que estava presente naquele momento único.
Após um longo tempo de silêncio, eu procurava o que se pode chamar de abrigo. Eu não queria me perder, mas não podia perder aquele instante. Ele me deu a mão e me levou a conhecer as minúcias de sua história, me mostrou a riqueza de sua caminhada e a beleza dos afetos que conheceu.
Então, eu entendi. Pude compreender que as pessoas não chegavam até ele por excesso de atividades. Muitos não sabiam o motivo de estarem ali, mas estavam. Outros apenas queriam fugir. Mas o que ele realmente quis me fazer entender era que a maioria se achegava a ele por inércia.
Saturados de uma vida sem emoções, cheios de dias nublados, exaustos de uma dura rotina.
E ele os recebia com um abraço, deixava que pousassem por um tempo e então caminhava junto até mostrar um novo caminho a seguir. Com um impulso os lançava, expulsava o sedentarismo e lhes dava asas.

E mesmo após tudo isso, ele só podia ser um belo amigo.

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