sexta-feira, 30 de maio de 2014

"Adeus"

Ele disse: “Adeus”. Com uma frieza inexplicável de alguém que não deseja mais nada. Ela queria acreditar que aquilo fosse invenção e que ele mentia para si mesmo.
Mas ele não ousou desmentir. Com olhos secos e focados, permaneceu em sua decisão, andou em direção à saída e se foi sem olhar pra trás.
Por um tempo que pareciam longas horas ela permaneceu ali, parada, intacta, sem poder acreditar. Como viveria sem por alguns momentos voltar até aquelas lembranças? Ela sabia que precisava seguir, mas algo lhe prendia, talvez fosse o fato de nunca ter respondido aquele adeus.
Sentia-se tola, culpada, tensa e até estranha. Ela jamais saberia o que dizer e a confusão de sentimentos a deixava atônita. Como se alguém a tivesse pausado com um controle remoto que ela não podia alcançar.
A verdade é que ela não queria remoer mais aquelas lembranças, ela não desejava permanecer ali, mas cada caminho que trilhava tornava aquele tempo mais vivo. E então ela se conformou, não havia nada que pudesse ser feito, precisava aceitar a realidade.


E aquele dia sem cor marcou a dor de um coração que sentiu a perda pela primeira vez. Um coração paralisado que bateria apenas o compasso natural de alguém que nunca desejou amar. 

domingo, 25 de maio de 2014


Eu sempre achei que o cansaço fosse o resultado de atividades constantes, sempre achei que ele chegava após um longo tempo como que um alerta, sempre achei que ele indicava o fim, o fim das forças, o fim da vontade, das expectativas e talvez da disposição.
Mas um dia eu o encontrei, o vi cara a cara. Ele tinha características únicas, uma face surrada e um corpo cheio de hematomas. Havia nele uma grande bagagem, como se com meus próprios olhos, eu pudesse ver os escritos de toda sua história. Como se cada parte de sua pele trouxesse palavras que marcaram sua trajetória.
Meus olhos se turvaram diante daquela visão, eram muitas informações, eu não podia digeri-las. Sentei ao seu lado, atônita, fitei meus olhos em um ponto pra me sentir segura. Ele me olhou com ternura e quis me contar algo, abriu a boca, mas nenhum som apareceu. Eu só podia ver a luta interna que estava presente naquele momento único.
Após um longo tempo de silêncio, eu procurava o que se pode chamar de abrigo. Eu não queria me perder, mas não podia perder aquele instante. Ele me deu a mão e me levou a conhecer as minúcias de sua história, me mostrou a riqueza de sua caminhada e a beleza dos afetos que conheceu.
Então, eu entendi. Pude compreender que as pessoas não chegavam até ele por excesso de atividades. Muitos não sabiam o motivo de estarem ali, mas estavam. Outros apenas queriam fugir. Mas o que ele realmente quis me fazer entender era que a maioria se achegava a ele por inércia.
Saturados de uma vida sem emoções, cheios de dias nublados, exaustos de uma dura rotina.
E ele os recebia com um abraço, deixava que pousassem por um tempo e então caminhava junto até mostrar um novo caminho a seguir. Com um impulso os lançava, expulsava o sedentarismo e lhes dava asas.

E mesmo após tudo isso, ele só podia ser um belo amigo.

sábado, 24 de maio de 2014

A Arte de Esperar

O que esperar quando você está esperando? O som dessas palavras ecoava em sua mente como um sino que sabe a hora exata de tocar.

Piscava os olhos no que mais parecia uma eternidade de segundos e descobria que em todos esses 20 e tantos anos, viveu como se algo fosse chegar. Vivia esperando que alguma coisa acontecesse, mas percebeu que não sabia o que esperar. Era como se todo aquele tempo servisse de preparação para algo futuro, como se tudo que houvesse fosse a fé de um coração que espera, apenas espera.
Aquela tarde desejou revelar tudo que tal coração não desejava acreditar. O final de toda aquela espera não tinha nome, não se sabia em que acreditar ou se havia algo pelo qual esperar. E se tudo que aconteceu até hoje fosse o máximo de sua vida, mas tivesse se perdido em meio às expectativas vagas de algo que nunca fosse chegar. E se tudo fosse apenas “isso”?
Sentia-se enclausurado pelas dúvidas e questionado pelo próprio coração que desejava viver novidades. Não havia nada novo pra contar, levaram embora a disposição para buscar, esconderam os desejos mais sinceros de lutar. Sobrou apenas uma pitada de esperança onde ninguém podia encontrar.
Há um toque mágico em momentos como esse: o impulso. Como uma alavanca que se pode acionar ou trampolim que pode nos jogar. Mas sempre há a decisão de permanecer com um sentimento de quem ainda deseja conquistar. O segredo é descobrir a arte de esperar e encontrar aquilo pelo qual vale a pena lutar.

E então, com um belo sorriso, no final de tudo terá sido válido viver o melhor e ainda assim acreditar que o melhor nos surpreenderá.